Seu Aldo e Kaká.

Hoje me lembrei deste texto que escrevi a um bom tempo e quase me acabei cavando minha linha do tempo no facebook para encontra-lo.










Então Seu Aldo e seu filho Kaká desciam a rua onde moravam com rumo à padaria. Aldo estava de folga do serviço e arrastava Kaká contrariado mas não birrento pelo braço.
O Sol irradiava suave entre as folhas daquele bairro tranquilo e uma fresca brisa os convidava à caminhada.
Como que surgido do nada aproxima-se deles um rapaz de cabelos longos e brilhantes, uma evidente barba rala por fazer e um vestido simples de bolinhas azuis. Passa por eles e diz bom dia.
- Bom dia - Respondem eles - Seu Aldo não dera atenção maior, mas Kaká torcia o pescoço feito uma coruja olhando para o rapaz.
- Pai - chamou Kaká - Que cara estranho, né?
- Pois é.
- Ele pensa que é uma mulher?
- Sei lá. A barba deve complicar esse pensamento.
- Então o quê?
- O que, o que?
- Não entendo.
- Então coloque na lista de coisas que não entendemos.
- Farei isso, mas é muito estranho. Sou contra isso.
- Coloca isso também.
Kaká ficou pensativo por um instante mas indagou em seguida :
- O que não entendemos agora?
- Como você pode ser contra o que não é da sua conta.

- J.Giacomo

De cães e homens

De cães e homens
Existem dois tipos de cachorros. Um deles sabe que é cachorro, gosta de latir bastante porque seu dono parece entender. Seu dono faz festa e fala com ele quando late e o cão por sua vez finge entender pois quer ser igual a ele. Por vezes sente que é um amigo e pode até dormir na cama com seu dono. Esse tipo de cão se esforça e acha que ter um dono que o deixa ficar dentro de casa é uma grande conquista afinal ele é fofinho, limpinho e está sempre cheirando a shampoo.
Este tipo de cão costuma odiar o segundo tipo.
O segundo tipo fica no quintal. Sente frio, sente calor, bebe água morna e precisa comer rápido sua ração para que não murche no pote. Embora veja seu dono com desconfiança tem poucas oportunidades de chamar a atenção do seu dono quando este passa pelo quintal e não sabe bem porque o faz mas sempre faz. Abana o rabo, corre de um lado a outro e às vezes ganha uns tapinhas na cabeça quando o dono não tem muita pressa. Ele não quer entrar na casa pois entende que seu lugar é ali. 
Certa vez seu dono lhe deu um banho e o deixou entrar em casa. Ele entrou desconfiado. O outro cão rosnou e desconfiou. Avisou ao dono que não era boa ideia. Quando o cão do quintal viu que poderia entrar sem problemas roeu os fios da TV, mastigou os chinelos e se escondeu embaixo da cama. O dono o puxou de lá pelo rabo e o colocou de volta no quintal. 
Essa história é simples assim. É estranha mas acaba assim. 
Cães não são todos iguais.
Cães podem ter cães.
Cães nunca serão homens.

De pães e velhas.

Aí contei umas moedas, catei outras debaixo do sofá e fui comprar pão. Observei uma velhinha magricela na frente da padaria falando com o pessoal. De longe lí nos lábios o clássico "Deus abençoe" e mais à frente parou junto a umas testemunhas de jeová. Passei ao lado e a ouví dizer "...E ele é especial não pode ficar sem tomar café". Seguí meu caminho e ouço chamar "Moço, moço", me viro e é a tal velhinha. Me disse que o filho havia sido assaltado, levaram todo o salário dele e perguntou se eu não poderia comprar quatro pãezinhos para ele. Respondí que quatro eu ia comprar para mim, se quisesse eu lhe daria metade. Ela aceitou. Enquanto comprava fiquei buscando chances de isso ser um possível golpe. Quando a gente mora à quase trinta anos neste lugar aprende a não confiar em ninguém.Fica doente mesmo. Mas no final pensei: Bom, são pães, né?
Na saída dei-lhe os pães ainda quentes. Ela me desejou a benção do seu Deus, respondi meu sempre educado "amém", dei as costas e seguí meu caminho a pensar: Ela passou por quem tinha muitos pães (a padaria), pelas pomposas, bem vestidas e orgulhosas da benção de Jeová suas testemunhas e no final teve de um desempregado (chamado pela sociedade de vagabundo), ateu, barbudo, esquisitão e desajustado dividir os pães com a senhora. Parei de pensar no possível golpe e agora questiono quem dentre nós realmente está doente.